Topo

Matheus Pichonelli

Antes de agressão, Butler alertou: alegria e liberdade estão do nosso lado

Matheus Pichonelli

11/11/2017 15h55

A filósofa norte-americana Judith Butler, 61, em conferência no Sesc Pompeia, em São Paulo Foto: Sesc-SP/Divulgação

De ânimos exaltados a caso de polícia. Em sua passagem pelo Brasil, a filósofa norte-americana Judith Butler foi alvo de manifestações contra sua presença em debates em São Paulo, testemunhou a queima de um boneco que a representava e ouviu, no aeroporto de Congonhas, agressões verbais do tipo "assassina de crianças", "volte para sua terra", "você não é bem-vinda aqui".

Durante a perseguição, uma mulher saiu em defesa da filósofa e levou um tapa; outra foi xingada. A agressora foi conduzida para a delegacia e deve responder pelo crime de injúria.

O maior "crime" de Judith Butler, como escrevemos por aqui pouco antes de sua chegada ao país, é desafiar preconceitos.

Quem se pergunta as razões de tanto ódio pode encontrar uma chave de compreensão em um vídeo gravado por ela mesmo, em entrevista ao site da Boitempo Editorial, que lançou seu livro "Caminhos divergentes: judaicidade e crítica do sionismo".

No vídeo, divulgado no mesmo dia da agressão, Butler afirmou que para quem acredita que homens deveriam assumir um papel social específico e as mulheres, outro papel, "é muito difícil" aceitar que "mulheres decidem ter filhos sozinhas como mães solteiras, ou quando gays e lésbicas decidem se casar e esses direitos são concedidos a eles, ou quando a orientação sexual acabar não sendo necessariamente heterossexual, ou quando pessoas trans querem mudar o gênero atribuído a elas no nascimento, ou ainda quando mulheres querem usar a tecnologia reprodutiva para parar de ter bebês ou tê-los quando não podem".

"Todas essas liberdades que associamos ao movimento feminista, ao movimento LGBTQ, desestabilizam uma ideia mais tradicional da dominação masculina sobre a família", disse.

Em tempos sombrios, ela lembrou que existem heterossexuais casados ​​e com filhos que "também apoiam o casamento gay e lésbico, ou apoiam pessoas transexuais, ou apoiam pessoas intersexo, ou apoiam mães solteiras, ou tecnologia reprodutiva, ou pensam que as pessoas deveriam ter direito à tecnologia reprodutiva como quiserem."

Segundo Butler, há uma diferença entre aqueles que querem impor a forma social, a organização social de suas vidas íntimas, e alegam que todos deveriam ter o mesmo tipo de vida que eles vivem, e aqueles que aceitam que existe gênero e diversidade sexual no mundo.

"O mundo que os conservadores querem destruir, o mundo gay e lésbico, o mundo trans, o mundo feminista, já é muito poderoso. Eles não têm nenhuma chance de destruí-lo."

Para ela, quando maior a aceitação dessa ideia, "com mais raiva eles ficam".

"O que vemos agora, nesse conservadorismo sexual contemporâneo, é um esforço para nos levar de volta a um mundo que nunca mais voltará. Então não devemos nos preocupar com a reversão de todos os nossos passos. Eles estão tentando, mas não vão ganhar, porque nosso lado é o lado da maior aceitação, da maior compreensão, e oferece mais reconhecimento a mais pessoas, e as pessoas querem viver com liberdade, querem viver com alegria. Elas não querem viver com vergonha e não querem viver com censura".

"Nós temos alegria e liberdade do nosso lado, e é por isso que ao final vamos vencer", afirmou.

Confira o vídeo:

https://youtu.be/cozmjJpMakM

Sobre o autor

Matheus Pichonelli é jornalista reincidente e cientista social não praticante. Trabalhou em veículos como Folha de S.Paulo, portal iG, Gazeta Esportiva, Yahoo e Carta Capital. Araraquarense, desistiu de São Paulo após 12 anos e voltou a morar no interior, de onde escreve sobre comportamento, cinema, política e (às vezes) futebol.

Sobre o blog

Este blog é um espaço de compartilhamento de dúvidas, angústias e ansiedades vivenciadas em um mundo cada vez mais conectado, veloz e impessoal.