Então é Natal. E o que você não fez?
O brasileiro, dizem, gosta de deixar tudo sempre para a última hora. A exceção, ao que parece, é o consumo de panetone e os balanços de fim de ano, iniciados cada vez mais cedo.
Prova disso é que, faltando praticamente um mês e dez dias para pular onda na praia e renovar as promessas, já tem gente no Twitter lançando a hashtag #PrometiENãoFizEm2018. Mais precisamente 13 mil pessoas, segundo os Trending Topics do Twitter.
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A brincadeira oficialmente decretava outro movimento, o "acaba 2018", que neste ano começou a pipocar desde a primeira simulação de falta do Neymar na Copa que terminou em julho, há mais ou menos 50 anos.
Não esperaram sequer começar a tocar "Então é Natal", da Simone, nas lojas do centro ou surgirem, como flocos de neves, as primeiras uvas passas que inundam nossas incursões gastronômicas nessa época do ano – da salada ao cachorro-quente.
O problema é que, quando o assunto é balanço das promessas, estamos todos endividados até o pescoço.
Em 2018, completei exatamente metade da vida prometendo tirar carteira de motorista e aprimorar o meu inglês, com uma viagem ou um curso online.
Com um agravante: ao longo do ano, eu fracassei não apenas na missão de completar minhas resoluções. Eu não consegui avançar mais de duas páginas em qualquer livro que abri e não tive paciência (a palavra é paz de espírito) para terminar.
(Parêntesis: enquanto escrevo este texto, um anjo bom me vem ao ouvido para dizer "coragem, Deus criou o mundo em sete dias e vocês, em 40 dias, podem inventar um novo mundo". Ao que outro anjo, este torto, que vive nas sombras, manda adiar tudo para o ano que vem: resoluções, reuniões e tarefas espinhosas, como trocar a lâmpada da sala que queimou em março).
Os fracassos relatados no Twitter ao longo do dia, além de hilários, pareciam girar em torno de três promessas básicas: todo mundo queria ser mais fitness, ter mais paciência e/ou usar menos as redes sociais.
Não parece, mas o fracasso de uma coisa está diretamente relacionado ao outro: entediados com as conversas em torno da mesa, nos refugiamos no celular como quem pede para ser sugado para dentro da tela; nos aplicativos, nos estressamos e perdemos a fé na humanidade, principalmente quando é ano eleitoral e compramos briga com meio mundo; desgostosos, esquecemos as metas de corrida e caminhada para nos entupir de álcool e açúcar para adocicar uma realidade fosca, endurecida, cheia de gente sem graça e ofensas gratuitas.
O inferno, ensinava um velho francês, não são os anos; são os outros.
E tudo parece se agravar, entre cansaço, calor e desgosto, desde que passamos a nos relacionar com uma multidão por meio das timelines. Não tem força, fé e foco que aguente.
Tempos atrás, marquei uma consulta na oftalmologista porque, sem conseguir enxergar a placa de ônibus, tinha certeza de que minha miopia havia aumentado. Estava enganado: segundo a médica, os músculos do meu globo ocular estavam acostumados a ver as coisas sob um mesmo ângulo, o ângulo do celular, e eu precisava fazer exercícios para reaprender a expandir o olhar. Como? Observando paisagens, horizontes, telas cheias e não de touch screen.
Mas estamos em novembro e estamos cansados demais para começar qualquer exercício. Fica para depois.
Para 2019, aliás, quero registrar desde já uma promessa: passar mais tempo off-line no mundo analógico. Minha imersão começa depois de fevereiro, provavelmente com um disco na vitrola, que também prometo consertar.
A música? "Estou me guardando pra quando o Carnaval chegar".
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