10 maneiras de não passar mais vergonha até o fim da eleição
Matheus Pichonelli
28/09/2018 04h00
Ilustração: Getty Images
1. Cuidado com correntes de WhatsApp. Você pode não saber, mas por trás de todo alarme polvilhado de exclamações tem um trabalhador (in)voluntário fazendo serviço gratuito para um político esperto que se beneficia da corrente: você.
2. Não compartilhe nada sem checar a fonte. Desconfie de links com nomes apelativos como "Diário da Revolta", "A Verdade Nua e Crua", "Correio do Brasileiro de Bem" e histórias que terminam em Brasília com invasões alienígenas e guerras nucleares. Há inúmeros coletivos de checagem de fatos que muitas vezes já desmentiram no ano passado o alerta que você compartilhou hoje.
3. Menos meme, mais ciência. Política é uma ciência e, desde Maquiavel, há muita gente boa se debruçando para entendê-la. Que tal ouvir o que eles têm a dizer antes de compartilhar memes de ataques a candidatos?
4. Partido não é seita. Candidato não é mito. Vale para quem se ajoelha de manhã e acende vela para seu candidato ou candidata, vale para quem acha que o partido político do rival é a fonte de todos os males do Brasil, do trânsito à unha encravada. Políticos são servidores a quem confiamos um mandato e que podem ser removidos do cargo se trabalharem por eles e não por quem os elegeu. Eis a maravilha da democracia.
5. Orgulho ou preconceito? Nessa época, muita gente tira do armário todos os seus preconceitos de classe travestidos de opinião e revolta política, seja porque sua vontade não foi "obedecida" pelo restante do país, seja porque o impulso separatista faz imaginar que só alguns têm vocação para locomotiva, seja porque se esquece que cada unidade da federação, por mais rica que seja, tem o Tiririca que merece.
6. "Não suporto política". Spoiler: tudo é política. Até a escolha da nossa roupa de algodão made in China. Presidente, governadores, deputados e prefeitos não são uma casta alienígena que brotam dentro de paletós: são um de nós com mandato de quatro anos. Não fosse a política, não haveria leis e aplicação de leis, nem para segurança de trânsito nem para vacinação.
7. Olho no futuro, promessas do passado. A forma como produzimos riquezas e consumimos serviços tem mudado o tempo todo a cada instante. Não está fácil para ninguém, a começar por taxistas e atendentes de loja impactados pelas novas tecnologias. Muitas vezes a romantização do passado esconde a falta de ideias para o futuro. Mortalidade infantil, expectativa de vida, taxa de analfabetismo, acesso a informações e liberdade de opinião: avançamos em quase tudo em relação às últimas décadas. Ainda assim há sempre alguém disposto a dizer que bom mesmo era viver entre as flautas, os castiçais e os ratos da Idade Média.
8. Não tenha medo de espantalho. Poucas coisas mobilizam mais a nossa atenção do que o medo. Lançar aos adversários o receio por tudo de mal que possa acontecer à nossa família é uma forma de ganhar voto sem precisar mostrar o que se quer e como fazer com o país. É preciso se desviar de espantalhos para não fazer papel de bobo quando falarem sobre projetos de doutrinação escolar, fraudes nas urnas, perigos desativados desde a Guerra Fria, planos malignos orquestrados por sociedades secretas e outras teorias da conspiração.
9. "Ninguém me representa". Sim: existe uma opção de voto com a sua cara, sua personalidade, seus valores, sua voz, seu modo de pensar, suas roupas. Essa plataforma política é você, que está livre para se filiar e concorrer ao cargo que almejar. Fora isso, provavelmente em algum momento algum candidato ou candidata vai te decepcionar com gestos e ações – assim como seus pais, professores, amigos, namoros.
10. É a minha opinião e pronto. Antes de iniciar uma discussão sobre política e chamar alguém de "manipulado", questione-se: sua disposição em ouvir a pessoa é real ou você quer apenas convencer alguém de suas certezas? Todos sabemos que sua opinião é muito valiosa para você, e que sem ela faltaria até nosso ar de todo dia, mas a ignorância está mais perto da teimosia do que da coerência.
Sobre o autor
Matheus Pichonelli é jornalista reincidente e cientista social não praticante. Trabalhou em veículos como Folha de S.Paulo, portal iG, Gazeta Esportiva, Yahoo e Carta Capital. Araraquarense, desistiu de São Paulo após 12 anos e voltou a morar no interior, de onde escreve sobre comportamento, cinema, política e (às vezes) futebol.
Sobre o blog
Este blog é um espaço de compartilhamento de dúvidas, angústias e ansiedades vivenciadas em um mundo cada vez mais conectado, veloz e impessoal.